Feira da reforma agrária no Rio oferece 70 toneladas de alimentos

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Feira da reforma agrária no Rio oferece 70 toneladas de alimentos / Foto: Tânia Rêgo, Agência Brasil

Uma enorme tenda montada na 7ª Feira Estadual da Reforma Agrária Cícero Guedes foi um alento para muitas das pessoas que passaram, na manhã de hoje (7), pelo Largo da Carioca, centro do Rio de Janeiro. Além de servir de refúgio da chuva forte, o interior da tenda oferecia uma variedade de cores, cheiros e sabores, além de música, apresentações culturais e rodas de conversa.

Até quarta-feira (9), cerca de 150 produtores expõem no local verduras, legumes e frutas, além de alimentos processados provenientes da agricultura familiar de assentamentos de reforma agrária.

A feira é realizada pela Cooperativa de Trabalho em Assessoria a Empresas Sociais de Assentamentos de Reforma Agrária (Cooperar) e pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), com patrocínio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Para uma das diretoras do MST no Rio de janeiro, Andreia Matheus, a feira é uma oportunidade importante de mostrar mostrar a urgência da reforma agrária, não apenas para os agricultores, mas também também para os consumidores. “Os assentamentos, de forma geral, são impactados pela falta de investimento público, políticas públicas e, nestes sete anos, a feira tem mostrado a importância da reforma agrária e do diálogo com a sociedade sobre a função social dos assentamentos na produção de alimentos saudáveis e diversificados”, afirmou Andreia.

Ela disse que a feira é também um espaço de intercâmbio de ideias e experiências e de contatos para o escoamento da produção em outras feiras e estados. “Já conseguimos sair daqui com articulação de outras feiras em universidades, escolas, contatos para dar palestra e visitas para conhecer os assentamentos.”

De acordo com Andreia, a maioria da produção está no processo de transição da agricultura convencional para a agroecológica, sem insumos sintéticos ou venenos. A expectativa do MST é que, no médio prazo, todos os assentamentos do movimento tenham produtos exclusivamente agroecológicos no futuro, afirmou. “E mesmo os que ainda usam agrotóxico não seguem a mesma lógica do agronegócio, não usam quantidades discrepantes [do produto].”

A agricultora Marcela dos Santos, de 34 anos. faz parte do assentamento Oswaldo de Oliveira, em Macaé, norte fluminense, o primeiro no estado integralmente agroecológico. As 73 famílias que moram lá produzem alimentos, artesanato e produtos fitoterápicos, como xaropes e sabonetes naturais.

Há cinco anos, Marcela deixou a cidade e se mudou para o assentamento com os três filhos. “ Antigamente, tinha que sair às 5h da manhã para trabalhar. Chegava em casa e ia para o serviço de novo. Agora consigo conviver mais com meus filhos. Além disso, descobri que gosto muito de trabalhar com a terra”. Segundo a agricultora, os três filhos, com idades entre 16 e 20 anos, também estão aprendendo a mexer com a terra e podem seguir o caminho da agricultura orgânica.

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Além da venda de orgânicos, feira promove conversa sobre agrotóxicos e transgênicos / Foto: Tânia Rêgo, Agência Brasil

Embora a maioria dos produtores que expõem na feira estadual, no Largo da Carioca, sejam de assentamentos do Rio de Janeiro, alguns produtos agroindustrializados vieram de assentamentos de outras regiões brasileiras, como o suco de uva do Rio Grande do Sul, os queijos de Santa Catarina e a cachaça de São Paulo.

Além das atrações musicais previstas até o fim do evento, haverá oficinas e rodas de conversa sobre experiências de comercialização e relação com consumidores e os impactos dos agrotóxicos e transgênicos na saúde. Está prevista ainda uma oficina de produção de fitocosméticos. A programação completa pode ser vista no site do evento  ou no Facebook.

Os organizadores esperam comercializar, de hoje até quarta-feira, mais de 70 toneladas de alimentos. Tudo o que for arrecadado nesse períoodo vai para as famílias que trabalham na feira.

O agricultor Luiz Paulo Ferreira, de 23 anos, mora no assentamento Zumbi dos Palmares, Núcleo II, em Campos dos Goytacazes, há 15 anos, e participa da feira desde sua criação. “A feira é importante, porque ganhamos um dinheiro para poder passar o Natal e agradamos às pessoas que gostam da mercadoria fresca, boa, sem remédio, sem nada”, disse ele.

A estudante de sociologia Maria Freitas, de 19 anos, achou barato o arroz orgânico integral, que comprou por R$ 5 o quilo. “No mercado, o arroz desse tipo mais barato não sai por menos de R$ 8. E aqui a vantagem é que ainda estou contribuindo para a agricultura familiar, sei que é um produto que não vem da monocultura, nem de trabalho análogo ao de escravo, por exemplo”, disse ela.

Como a agroecologia é um dos princípios do MST, parte da produção que vem dos assentamentos é agroecológica. O MST ainda trabalha, porém, na perspectiva de que todos os assentamentos do movimento façam a transição da agricultura convencional para a agroecológica, compreendendo que o objetivo da agroecologia é, sobretudo, garantir a segurança e a soberania alimentar dos agricultores e da sociedade.

Pela Lei 5999/2015, de iniciativa do deputado Renato Cinco (PSOL), a Feira Estadual da Reforma Agrária Cícero Guedes foi reconhecida como de interesse cultural e social para a cidade. No Rio de janeiro, estima-se em cerca de 1,5 mil o número de famílias assentadas ligadas ao MST.

Cícero Guedes dos Santos foi um dirigente do MST assassinado em 2013, na região de Campos dos Goytacazes, norte fluminense. Ele foi morto com vários tiros quando saiu de bicileta do assentamento onde morava, Zumbi dos Palmares.

*Por Flávia Villela – Repórter da Agência Brasil

Edição: Nádia Franco

Fonte: Agência Brasil

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